Avenidas do Belvedere viram palco para rachas entre carros e motos de luxo durante as madrugadas. Vários jovens se reúnem no Posto da Avenida Luiz Paulo Franco e dali saem para praticar ou para assistir as corridas que acontecem sempre nas madrugadas de quintas e sextas-feiras.
Deitados em cima de motos ou simplesmente pilotando carros em bancos bastante reclináveis, vários jovens estão praticando “rachas” ou “pegas”, como são conhecidos, em duas grandes avenidas do Belvedere: na Luiz Paulo Franco e na Paulo Camilo Pena. As corridas de rua acontecem com hora marcada e em pontos pouco movimentados durante à madrugada, trazendo transtorno para os moradores com ruídos de motores, freadas e “cantadas de pneu”, em altas horas da noite.
Segundo informou o presidente da Associação dos Amigos do Belvedere (AABB), Ubirajara Pires Glória, das janelas dos edifícios “é possível perceber que são jovens que pegaram os veículos dos pais e se arriscam em manobras arriscadas, em alta velocidade, desafiando as leis do silêncio e de trânsito nas madrugadas do Belvedere. Nesta brincadeira insana estão carros de luxo e alguns chegam a ficar muito danificados, principalmente, quando derrapam e batem as rodas nos meios-fios, chegando até mesmo a quebrar o eixo. Quando isso acontece, outra bagunça se instala até a chegada do reboque, com outros jovens gritando e comentando sobre o acontecido”.
Enquanto de dentro dos prédios, alguns moradores se revoltam ao acompanhar as ações, outros temem pela segurança de motoristas que trafegam naquele horário pelas ruas, como os taxistas. “Antes, eles escolhiam as ruas pouco movimentadas e sem redutores de velocidade. Agora, utilizam os redutores para demonstrar barulhos das frenagens ou até mesmo como um tobogã, o que demonstra que não são proprietários e estão utilizando veículos de pais ou parentes”, acrescenta um morador da Avenida Paulo Camilo Pena com Elza Rodarte, um dos pontos escolhidos pelos jovens para os “rachas”.
Para Ubirajara, as ruas do Belvedere “podem até ser consideradas ideais para que esses infratores organizem esses ‘rachas’, mas não será acatada tal permissividade, atrapalhando as noites de sono de moradores e a segurança do bairro. Já chamamos a Polícia Militar para coibir estas ações, mas até o momento ainda não fomos atendidos”.
Adelmo Domingos, que reside no bairro há nove anos, diz que as noites no Belvedere estão ficando insuportáveis, com esses “pegas” e com as manobras conhecidas como “cavalo de pau”. “Não estamos conseguindo dormir e o pior não sabemos a quem recorrer. Já ligamos várias vezes para a PM, através do 190, e nada foi resolvido”. Segundo ele, é preciso dar um basta a esse transtorno e irresponsabilidade por parte dos jovens.
Os militares da 124ª Cia da Polícia Militar, do 22º Batalhão, responsáveis pelo policiamento no Belvedere e região, estão acompanhando de perto os jovens motoristas que praticam “rachas” e “pegas” nas ruas do bairro. “Todas as quintas, sextas e sábados temos recebido reclamações e fazendo ações para conter estes jovens que estão praticando estes delitos no Belvedere. Esta situação não é novidade para nós da PM. O que acontece é que quando chegamos ou até quando estamos no local, próximo ao posto de gasolina que fica na esquina das Avenidas Luiz Paulo Franco e Paulo Camilo Pena, estes rapazes ficam quietos e não cometem os tais pegas. Basta o nosso pessoal deixar o local para atender outra ocorrência, às vezes até uma fiscalização no próprio bairro, que a bagunça se instala novamente”, relata o Tenente Paulo, comandante do policiamento.
Segundo a PM, o maior problema “é a concentração desses jovens noposto Belvedere, que fica na esquina das duas avenidas. Lá eles consomem muitas bebidas alcoólicas, falam alto, colocam o som do carro em alto volume e, depois, saem para fazer os rachas, pegas e cometerem os delitos. O próprio pessoal do posto de gasolina encobre a bagunça dos rapazes. No sábado, dia 1º de fevereiro, foi registrada uma briga no local, mas quando chegamos os funcionários do posto já haviam apaziguado tudo, dizendo que nada havia acontecido. Os moradores dos prédios próximos fizeram a denúncia e cobram dos militares uma solução”, relata a PM.
A Polícia Militar, segundo o Ten. Paulo, pretende traçar um esquema para apanhar os infratores: “Já estamos conscientes da necessidade de agir com mais firmeza com estes motoristas, pois estão colocando em risco a segurança da comunidade. Já temos as datas desses eventos e o local onde acontecem. Queremos também autuar aqueles que estão dirigindo alcoolizados”.
Os jovens que fazem “rachas” e “pegas” durante as madrugadas nas ruas do Belvedere também estão praticando estas mesmas imprudências, na Avenida Nossa Senhora do Carmo e na BR-356, no trecho entre os trevos do BH Shopping e na primeira entrada do bairro Belvedere, próximo à comunidade do Papagaio. As atitudes dos motoristas desafiam autoridades e se aproveitam de uma lacuna na fiscalização. De acordo com a Polícia Militar, o trecho da Avenida do Contorno ao Trevo do Belvedere, é de responsabilidade do Batalhão de Trânsito (BPTran). Dali em diante, na BR-356, a jurisdição é da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), que informou promover blitzes, na maioria das vezes, a partir do BH Shopping. Sem ninguém para policiar o trecho da ladeira do Bairro Belvedere, a chamada “curva do Ponteio”, condutores irresponsáveis se sentem livres para acelerar entre outros automóveis, chegando a desenvolver até 160 km/h num trecho de apenas 600 metros após a barreira eletrônica. A PM promete reformular ações para coibir tais abusos.
Blitzes
O perigo nesse trecho é evidente e, com isso, os acidentes são constantes, inclusive com mortes como aconteceu no dia 15 de setembro do ano passado, quando dois jovens morreram em acidentes marcados pela alta velocidade e desrespeito às sinalizações de trânsito. Outro acidente com morte e bastante noticiado foi quando Michael Donizete Lourenço (22 anos), bateu seu Land Rover num Focus, no Trevo de Belvedere, matando o administrador Fábio Fraiha (20 anos).
Os “pegas” na BR acontecem entre às 2h e às 4h30, quando nenhuma viatura policial é vista no local para coibir os abusos. O comandante da PMRv, tenente-coronel Sebastião Olímpio Emídio Filho, justifica a falta de policiamento no trecho entre o BH Shopping e o Trevo do Belvedere, onde ocorrem os pegas, à grande extensão de estradas a ser fiscalizada na Grande BH e à necessidade de blitzes em locais seguros. “A rodovia com mais operações e fiscalizações é justamente a BR-356. Mas, geralmente, fazemos ações mais próximo do BH Shopping, focando nos frequentadores de casas noturnas no Vale do Sereno e do Jardim Canadá (Nova Lima)” disse à imprensa.
O militar afirma que a polícia tem feito monitoramentos e verificado denúncias e pretende intensificar as ações para impedir as corridas ilegais no trecho. Contudo, o tenente-coronel Sebastião Emídio Filho afirma que nem em todos os locais é possível fazer blitz. “Não podemos armar uma fiscalização na saída de uma curva como a do Ponteio, porque isso colocaria em risco os condutores e militares. A pessoa em alta velocidade teria pouco tempo para reagir. Tem de ser em um local estratégico para coibir com segurança”, afirma.
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