Nos últimos dias, novas ocorrências de assalto a mão armada, furtos, roubo a residências e até mesmo um assalto seguido de estupro, levaram a comunidade ao pânico. Bandidos estão mais violentos e atacando a qualquer hora do dia.
A sensação de calmaria e segurança vivenciada até então pelos moradores do Belvedere parece ter acabado. Nos últimos 15 dias, novas ocorrências de assalto a mão armada, roubo a residências e até mesmo um assalto seguido de estupro, levou a comunidade ao pânico. O clima de terror, o medo e a sensação de impunidade e impotência, marcados por este último delito hediondo jamais ocorrido no bairro, deixaram os moradores bastante revoltados, e sem saber como agir. Alguns deles, vizinhos ao local onde mora a vítima, procuraram o JORNAL BELVEDERE para tentar mobilizar a sociedade e sensibilizar as entidades representativas e o Estado.
O fato aconteceu na madrugada do domingo, dia 12 de outubro, em uma pacata rua próxima à rotatória da Praça Haiti, quando uma senhora teve sua residência invadida por um bandido, e foi surpreendida enquanto dormia. A vítima não teve tempo para se defender, mas conseguiu prender o bandido dentro do quarto e saiu em busca de ajuda dos vizinhos para chamar a polícia. O ato generalizado de violência deixou vizinhos, amigos e familiares da vítima consternados, por tamanha crueldade. Quem socorreu a vítima logo após o acontecido narrou, em lágrimas, as cenas de horror, de covardia e barbárie jamais vistas pela comunidade no Belvedere. “Até então, tínhamos nossas casas roubadas, nossos carros e objetos de valor levados pelos bandidos. Esta agressão, este tipo de violação da intimidade nunca acontecera aqui”, comenta um vizinho da residência da vítima, que receoso pediu para não ser identificado. Aliás, foram vários os moradores que relataram o episódio e solicitaram para ficar no anonimato, com medo de represálias caso fossem identificados.
Um morador da Rua Sebastião Botelho se mostrou bastante desanimado com a situação: “Quem em BH está em segurança? Ninguém! Antes, os assaltos aconteciam em horários em que a residência estava mais vulnerável. Hoje, eles acontecem a qualquer hora do dia ou da noite. Quem tem uma casa não pode sair do lado de fora, pois tem receio de encontrar alguém no quintal, na área de lazer. Sair de carro então, é ainda mais perigoso porque enquanto se espera um portão se fechar o crime já aconteceu. Hoje, precisávamos aumentar a vigilância em todo o bairro, mas principalmente aqui neste ponto, que é próximo à saída da BR”, relatou.
Segundo ele, os moradores hoje só podem contar com Deus. Porque a segurança depende de vários fatores e isso acaba complicando: “Primeiro, precisamos aumentar as viaturas e o efetivo; mas antes disso, é preciso mudar as leis, porque a polícia prende o bandido e a lei o protege. Não adianta, isso é um esforço inútil”, alertou.
A sensação de insegurança pode estar mesmo em todos os locais da cidade. Mas, a região do bairro onde acontecera esse crime se mostra mais carente. Ao identificar o local é possível detectar a vulnerabilidade e riscos em razão do fácil acesso e escape tanto para a BR-356 quanto para o Sion e o próprio Belvedere. “É como se estivéssemos em uma imensa porteira sem trancas”, disse um morador.
O presidente da Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB), Ricardo Jeha se reuniu com o Major Olímpio e o Tenente Paulo do 22º Batalhão de Polícia Militar e com o presidente da Associação dos Amigos do Bairro Belvedere (AABB), Ubirajara Pires Gloria, para reforçar a questão da segurança na região. Ele informou que a saída não é a PM instalar um posto no bairro, mas sim aumentar as viaturas em circulação. “Também não adianta viaturas paradas na Lagoa Seca ou em frente aos bancos, na Avenida Luiz Paulo Franco, e a região das casas ficar indefesa. É preciso que viaturas circulem o tempo inteiro; que sejam destinadas duas viaturas para atender o bairro e uma apenas para o comércio, com um canal de comunicação para atendimento à população. Porque, quando um vizinho assiste um assalto, ele apita, liga e a PM não vem. Aliás, a PM só vem após o fato ocorrido, e tentar ser atendido através do 190 é impossível”, alerta Jeha.
Ainda segundo ele, é preciso trabalhar em duas frentes: “A primeira, junto aos deputados João Leite e Fred Costa e ao secretário de Estado de Segurança, para obter uma atenção maior ao bairro. A segunda, iniciando uma ação de curtíssimo prazo com mais viaturas que atendem realmente o bairro, e não dividi-la com os pequenos ocorridos no trânsito e no BH Shopping, pois isso toma muito tempo e trabalho do efetivo. E, junto a isso tudo, criar um canal de comunicação direta com a polícia militar, onde o morador possa acionar a PM no tempo real do acontecido”.
"Lamentável que mais uma vez, a diretoria da Associação não traga nenhuma informação sobre a segurança do nosso bairro! Este tipo de problema vem aumentando de forma assustadora e é impressionante como o bairro de maior poder aquisitivo de Belo Horizonte não consiga reverter este quadro?
Outros bairros têm conseguido diminuir consideravelmente os índices de assaltos e roubos, instalando câmeras, sistemas de relacionamento entre vizinhos, e convênios com a polícia militar!
Será que não está faltando foco e objetividade no trato desta questão? Atualmente, o Belvedere é o bairro que, percentualmente, tem o maior número de casas à venda e por consequência os preços das mesmas estão a cada dia mais desvalorizados e sem liquidez!!!
Ao invés de dar atenção a problemas menores como um lavador de carro que se instalou, um salão de beleza que abriu, e uma condicionante de uma mineradora que está em discussão num órgão público que nem no Belvedere é, vamos cuidar daquilo que realmente nos interessa!"
Alexandre Veiga
Empresário e morador do Belvedere
"Sei que a polícia não pode estar em todo os lugares ao mesmo tempo. Mas, é preciso aumentar a vigilância no Belvedere. Somos moradores que não podemos mais sequer cuidar dos jardins nas portas das nossas casas. Ou retirar um lixo orgânico nas entradas das garagens depois das chuvas. Porque qualquer movimento nesse sentido coloca em risco nossa segurança. O quê fazemos? Deixamos o jardim morrer e o lixo das folhas acumularem nas portas de nossas garagens e ficamos trancafiados dentro de casa? Porque, parece que isso que deve ser. Enquanto a polícia faz a sua parte, prendendo o bandido, a lei o beneficia deixando-o solto pouco tempo depois. E, nesse momento só podemos contar com Deus."
Ederson Leite Soares
Morador do Belvedere
Responsável pelo policiamento no Belvedere, o Major Olímpio Garcia, lotado no 22º Batalhão da PM, lamentou muito o acontecido. Ele informou que esse ano a PM iniciou o serviço de inteligência no belvedere e conseguiu identificar e prender, no mês de março, uma gangue formada por 11 membros que agiam pelo bairro. “Foi um trabalho árduo e muito difícil, porque tivemos que identificar um por um. Em conjunto com a Polícia Civil prendemos dez dos onze elementos, que foram todos reconhecidos por moradores. Em abril, através da mesma ação da PM, conseguimos prender o último integrante. Mais tarde, prendemos outra gangue do Morro das Pedras, com cinco integrantes que também agiam aqui. Aí, o bairro vivenciou esta sensação de calmaria e segurança, e as ocorrências diminuíram assustadoramente. Aí, todos foram beneficiados pela lei e estão soltos. Ou seja, a polícia prende, a justiça libera”.
Ainda segundo o Major Olímpio, o estuprador “foi identificado e é um criminoso que fora preso há menos de 45 dias pela PM. E estava solto, cometendo outro crime. Ou seja, o criminoso sabe que a lei o protege e a que a impunidade está a seu lado. Por isso continua realizando os delitos. Se não mudar a lei, o bandido vai continuar cometendo crimes”.
De acordo com ele, a PM atua no bairro com duas viaturas em horários de maior incidência de delitos. E que pelas modernas técnicas de ação da polícia não é recomendado a instalação de bases, e nem de policiais parados. O formato ideal é da vigilância constante, com rondas diárias, em vários pontos.
Ele informou também que o número de crimes praticados no Belvedere reduziu em 22% se comparado ao registrado em igual período – de janeiro a setembro – dos últimos cinco anos. “Enquanto a média do Estado cresceu em 25% a incidência de crimes violentos e furtos, o Belvedere reduziu em 22%, perdendo apenas para o bairro Gutierrez, onde a Rede de Vizinhos Protegida trouxe excelente resultado com a utilização de ferramentas como o celular, através do WhatsApp”. A grande preocupação dele agora, é com a chegada do final do ano, época em que os presos recebem o ‘indulto de Natal’, e “os criminosos se sentem livres para praticar outros crimes”.
"Há quatro noites que não durmo. Estou arrepiada. Presenciei um crime pavoroso, bárbaro, sem atenuante.” Com estas palavras uma moradora, vizinha à casa da vítima, iniciou seu depoimento ao JORNAL BELVEDERE, mas com a garantia que sua identidade fosse mantida em sigilo por medo de represálias. Chorando muito, clamava o tempo inteiro por ajuda e que o Jornal fizesse a interlocução junto a parlamentares e autoridades para uma solução para a segurança no bairro. E continuou:...
“Já conversei com meu marido e não quero mais ficar no bairro. Tem receio de andar no quintal em volta da minha casa. E, quando chego na minha varanda, independentemente de ser dia ou noite, ficou louca de tanto medo. A todo momento, ouço os gritos da minha vizinha pedindo socorro e lembro da cena com ela nua, agarrada no portão da minha casa. Gritos que foram ouvidos até na rua de cima por outros moradores. Aqui nesta área do bairro, os moradores são esquecidos; todo o cuidado e a presença de viaturas acontecem onde estão os representantes da sociedade e as autoridades. Nós ficamos ao lado de um aglomerado, à mercê e as facilidades de fuga dos bandidos pela BR, pelo Sion, ou pelo próprio bairro adentro. Antes havia um SAMU aqui que poderia trazer uma movimentação, mas até isso nos foi tirado.
Há dois meses, entraram na casa de uma outra vizinha levaram tudo, até o carro. Há pouco tempo, acomodando um enxoval da minha filha dentro do carro, com a garagem fechada, fui surpreendida por um ladrão que descarrilhou o portão na minha frente e furtou tudo. Gritei muito, mas ninguém ouviu e ele desceu a rua tranquilamente como se tivesse feito compras e as levasse para casa. Chamei a Emive e de nada adiantou.
É um sentimento de barbaridade (choros...), uma violência muito grande. Um cena horrível. As autoridades precisam ter ‘caridade’ com estas ruas aqui que formam apenas um quarteirão logo na entrada do bairro. Porque a sensação que fica é que não fazemos parte; mas somos associados, pagamos altos impostos e não termos a segurança devida. Até a capina do mato aqui é feita por nós, porque se esperamos o poder público ela acontece a cada três meses e esse local fica impraticável. O que precisamos é de mais atenção, de um policiamento ostensivo, de postos de policiamento na entrada do bairro, de investimento em segurança por parte do Estado. De viaturas fazendo rondas intensas e alguém que olhe por nós. Sinto que cada um luta pelo interesse próprio, precisamos agir no coletivo, pensar no coletivo e sermos uma comunidade de verdade."
V. T.
Moradora que socorreu a vítima em sua residência
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